Pontos principais:
- Uma Conferência de Paz Metodista Unida atraiu cerca de 200 clérigos e leigos para discutir a quebra das divisões nacionais.
- Os participantes ouviram sobre os perigos do nacionalismo cristão e da polarização nos EUA.
- Buscar a paz não significa ignorar as hostilidades do passado ou permanecer em silêncio diante das injustiças atuais, também foi dito aos participantes.
- Alguns dos participantes da conferência se juntaram a um protesto próximo, Hands Off! (ou Tire as mãos!, em traduçaão livre), que atraiu uma parcela significativa da população para protestar contra o desmantelamento dos serviços do governo federal.
Uma coisa com a qual americanos de todas as tendências políticas concordam é que o povo dos Estados Unidos está profundamente dividido. Aliás, "polarização" foi a palavra escolhida pelo dicionário Merriam-Webster para o ano de 2024.
Com muita frequência, o cristianismo tem contribuído para essa polarização — erguendo barreiras entre os americanos e alimentando a desconfiança. No entanto, os cristãos em geral — e os metodistas unidos em particular — também podem curar as fraturas e ajudar aqueles com maior probabilidade de serem prejudicados pela decadência da nação.
Essa foi a mensagem geral da Conferência pela Paz, realizada de 4 a 6 de abril no Centro de Conferências e Retiros do Lago Junaluska. Cerca de 200 clérigos e leigos, incluindo estudantes universitários, compareceram ao encontro.
O tema do evento foi inspirado em Efésios 2:14: “Porque Cristo é a nossa paz … e ele derrubou o muro de separação, que é a inimizade entre nós.”
A bispa Kennetha Bigham-Tsai, que lidera a Conferência de Iowa e co-lidera a Conferência Illinois Great Rivers, falou sobre esse tema durante o culto de abertura.

“Amigos, hoje estamos em grande perigo por causa dos muros”, ela pregou.
“Ao nosso redor, as pessoas estão construindo muros — muros para manter os imigrantes afastados, muros para manter as pessoas de cor em seus lugares, muros para cercar a comunidade LGBTQIA+, muros para excluir os pobres. Esses muros estão sendo construídos por meio de restrições à saúde, demissões e ataques ao financiamento, por meio de discursos violentos e desumanizadores. Esses muros estão sendo construídos por meio do medo.”
No entanto, ela disse, Cristo mostra outro caminho. Jesus derrubou muros ao longo de seu ministério terreno — curando no sábado e comendo com cobradores de impostos. Ele também defendeu os oprimidos e marginalizados.
Cristo demonstrou, enfatizou a bispa, que fazer a paz não significa ficar em silêncio ou acomodar a injustiça.
Bigham-Tsai e outros palestrantes da conferência discursaram para um público majoritariamente de uma região ainda em processo de recuperação das consequências das divisões entre igrejas. De 2019 a 2023, mais de 7.600 congregações americanas deixaram a Igreja Metodista Unida — em grande parte motivadas por conflitos sobre a inclusão LGBTQIA+. Cerca de metade dessas desfiliações ocorreram na Jurisdição Sudeste.
Essas desfiliações, bem como os atuais conflitos políticos nos EUA, desempenharam um papel na reformulação da Conferência da Paz deste ano, disse a Revda. Beth Crissman, diretora da conferência. Crissman é superintendente distrital e diretora dos ministérios de construção da paz na Conferência da Carolina do Norte Ocidental.
O Lago Junaluska sediou sua primeira Conferência da Paz em 2009. O encontro, organizado por ativistas pacifistas de longa data, teve caráter inter-religioso e focou nas guerras que então assolavam o Iraque e o Afeganistão. A Conferência da Paz continuou anualmente até 2019, o que os organizadores originais consideraram um bom ponto final.
Agora, as circunstâncias mudaram, disse Crissman, mas a necessidade de promover a paz não mudou. Então, ela e outros líderes das conferências Western North Carolina e da vizinha North Carolina começaram a trabalhar na concepção de uma nova conferência.
A intenção, ela disse ao Notícias Metodista Unida, é "reivindicar nosso chamado como embaixadores da paz, particularmente em nosso ambiente político altamente polarizado, que também impacta nossas igrejas, como vimos até mesmo dentro de nossa própria denominação".
O Rev. Gary Mason, pastor metodista que desempenhou um papel fundamental no processo de paz na Irlanda do Norte, fala sobre o confronto com o nacionalismo cristão em 5 de abril, na Conferência de Paz no Lago Junaluska. Ele disse que os EUA não são o único lugar a lidar com o nacionalismo cristão. Foto de Crystal Caviness, Comunicações Metodistas Unidas.
O Rev. Jonathan Marlowe, co-pastor sênior da Igreja Metodista Unida Monte Sião em Cornelius, Carolina do Norte, participou da primeira conferência, bem como da mais recente. "Esta Conferência da Paz é mais holística em termos de abordar aspectos do racismo que não foram muito discutidos na anterior", disse ele.
Planos em andamento para o próximo ano
Os organizadores já estão planejando a Conferência da Paz do próximo ano no Lago Junaluska. As datas programadas são de 13 a 15 de março no Centro de Conferências e Retiros Metodista Unido no Lago Junaluska, Carolina do Norte.
Como bispa, Bigham-Tsai disse aos presentes que ela pastorearia todas as pessoas, mas não os muros que elas erguem para impedir o progresso dos outros.
“Não sou pastora do racismo de ninguém. Não sou pastora da misoginia de ninguém. Não pastorarei a homofobia, o ódio e o desrespeito de ninguém em relação aos imigrantes”, disse ela.
Em vez disso, ela disse que busca o divino em cada pessoa que conhece: "Vou pastorear e buscar fazer crescer o Cristo dentro de você — o Deus que eu sei que está em todos nós. E farei isso desafiando você a amar além das barreiras da diferença e a derrubar muros."
A polarização corrói a democracia e torna a violência mais provável, disse Kristen Wall. Ela tem experiência em lidar com conflitos globais para think tanks e para o Instituto da Paz dos EUA, agora em processo de desmantelamento pelo governo Trump.
"Quando há polarização significativa, é mais difícil comunicar e coordenar para resolver problemas comuns. As queixas se acumulam, criando uma brecha para líderes políticos que exploram sentimentos de abandono ou frustração por meio de questões conflitantes", disse Wall.
“O ganho partidário torna-se mais importante do que seguir as regras. Isso destrói o interesse em compartilhar o poder, que é a base de um sistema democrático.”
A Revda. Beth Crissman (à esquerda), diretora da Conferência da Paz, aperta as mãos do Bispo da Conferência da Carolina do Norte Ocidental, Ken Carter, durante o culto de encerramento do encontro, sob a observação da Bispa Robin Dease. Carter ajudou no planejamento e discursou durante toda a conferência. Dease, bispo das Conferências da Geórgia do Norte e Geórgia do Sul, liderou o culto de encerramento em 6 de abril. Foto de Crystal Caviness, Comunicações Metodistas Unidas.
Qualquer pessoa familiarizada com a história dos EUA sabe que tal desunião não é inédita em uma nação que ainda luta contra o legado da escravidão de negros e da brutalização dos nativos americanos, disse Derrick Scott III. Ele é um antigo pastor universitário e co-líder leigo da Conferência da Flórida.
Em Lucas 4, disse Scott, Jesus estava enfrentando hostilidades históricas quando pregou boas novas aos pobres e acabou irritando todos na sinagoga.
“Uma das coisas que acredito estar acontecendo em Lucas 4 é o reconhecimento de que se ignorarmos a história, se não confrontarmos a hostilidade histórica, não poderemos ter unidade”, disse Scott, formado em história.
Manifestação contra os excessos do governo

Cheryl Lowe (à esquerda) e Andrea Gauldin-Rubio seguram cartazes baseados nas Escrituras e nos ensinamentos de John Wesley no protesto "Hands Off!" (Tire as Mãos) em Waynesville, Carolina do Norte. Foto de Heather Hahn, Notícias MU.
Os Metodistas Unidos na Conferência da Paz se juntaram a um dos protestos nacionais contra o impacto do governo Trump nos serviços governamentais e nos direitos humanos.
Ele pediu ao público que não se prendesse demais a comparar o sofrimento de um grupo com o de outro. Tais comparações, sem reconhecer as diferentes histórias das pessoas, disse ele, podem levar "ao tipo de solidariedade barata que desaparece quando o privilégio é ameaçado".
O Rev. Ismael Ruiz-Millán, diretor executivo de ministérios conexionais da Conferência da Carolina do Norte, foi inspirado pela palestra de Scott. Ele alertou os brancos a não se apressarem em aliviar sua culpa pelo pecado do racismo silenciando pessoas de cor. Ele disse que frequentemente vê brancos interromperem um lamento pedindo orações em torno da pessoa que compartilha sua dor.
“Precisamos ter cuidado ao usar os meios da graça como um meio de opressão, como uma arma para silenciar o lamento dos oprimidos”, disse ele.
O Rev. Gary Mason — um pastor metodista conhecido por muitos metodistas unidos — falou sobre a ameaça do nacionalismo cristão. Ele falou com base na experiência de trabalhar para pôr fim à guerra civil de 30 anos na Irlanda do Norte, conhecida como the Troubles (os Problemas). Há cerca de uma década, Mason ouviu uma citação de um estudioso japonês sobre o nacionalismo xintoísta que, segundo ele, se aplica tanto à sua terra natal quanto aos EUA.
“Um ato incompreensível se torna compreensível quando narrado em conjunto com a religião”, ele relatou. “É aquela mentalidade de 'Deus está do nosso lado'.”
Para lidar com a religião tóxica, disse ele, os Metodistas Unidos precisarão levar seu ministério para fora dos muros da igreja. Ele também sugeriu que os Metodistas Unidos estejam dispostos a conversar com homens armados, incluindo os Proud Boys e os One Percenters. Ele enfatizou que engajamento não é endosso, mas relacionamentos são essenciais para mudar corações e mentes.
“Eu diria a todos vocês que, mesmo que sintam que a América está em desespero, não desistam”, disse Mason. “O oxigênio da esperança é um dos mecanismos mais essenciais que a igreja cristã pode realmente trazer.”
*Hahn é editora assistente de notícias da Notícias MU. Entre em contato com ela pelo telefone (615) 742-5470 ou pelo e-mail newsdesk@umnews.org. Para comunicar com Notícias MU você pode ligar para 615-742-5470, newsdesk@umnews.org o IMU_Hispana-Latina @umcom.org.
**Sara de Paula é tradutora independente. Para contatá-la, escreva para IMU_Hispana-Latina@umcom.org.