Nova estrutura da Igreja Metodista Unida ratificada


Pontos principais:                                    

  • Os delegados das  conferências anuais ratificaram um pacote de alterações constitucionais que visa colocar as diferentes regiões geográficas da Igreja Metodista Unida em pé de igualdade.
  • De acordo com a reestruturação recentemente ratificada, os EUA e cada conferência central — regiões da igreja em África, Europa e Filipinas — tornam-se conferências regionais com a mesma autoridade legislativa.
  • Os bispos devem agora nomear uma comissão que será responsável pela criação de uma conferência regional nos EUA, uma estrutura totalmente nova.
  • A ratificação também abre caminhos para questionamentos e  estudos adicionais sobre a continuidade das jurisdições nos EUA.

Os delegados metodistas unidos nos quatro continentes ratificaram uma grande reestruturação que visa conferir às diferentes regiões geográficas da denominação igualdade na tomada de decisões.

O Conselho de Bispos, reunido online, anunciou a 5 de novembro a ratificação da reestruturação — conhecida como Regionalização Mundial — bem como de outras três alterações à constituição da denominação.

“A ratificação e certificação destas emendas constitucionais marcam um momento decisivo na contínua renovação e unidade da Igreja Metodista Unida”, disse a presidente do Conselho de Bispos, Tracy S. Malone, em comunicado de imprensa . A Bispa Tracy Malone lidera a Conferência de Indiana.

“Estas alterações refletem a rica diversidade da igreja e o profundo compromisso de vivermos mais plenamente a nossa missão partilhada de fazer discípulos de Jesus Cristo para a transformação do mundo e fortalecem a nossa conexão global para servir fiel e inclusivamente em todos os contextos.”

Para ser ratificada, uma emenda constitucional tem primeiro de receber pelo menos dois terços dos votos na principal assembleia legislativa da denominação, a Conferência Geral — o que aconteceu no ano passado . Em seguida, cada emenda deve receber a aprovação de pelo menos, dois terços do total dos votos dos delegados  clérigos e leigos nas conferências anuais realizadas em todo o mundo. A denominação conta com mais de 120 conferências anuais — entidades compostas por várias igrejas e ministérios — em África, Europa, Filipinas e Estados Unidos.

Os delegados das conferências anuais apoiaram a regionalização com  uma votação de 34.148 a 3.124 — uma maioria de 91,6%.

“Celebramos esta ratificação histórica e bem-sucedida da Regionalização Mundial como uma poderosa afirmação da conexão mundial dos Metodistas Unidos”, afirmou Benedita Penicela Nhambiu, de Moçambique. Benedita esteve envolvida em todas as fases do processo legislativo.

Com a regionalização, disse ela, a Igreja Metodista Unida está entrando “numa era de equidade, onde cada região é um parceiro capacitado”.

Recursos sobre regionalização

Mais recursos sobre a regionalização e os seus efeitos podem ser encontrados em resourceumc.org/regionalization.

O que faz a regionalização

A regionalização é a alteração mais debatida e potencialmente de maior alcance entre as que foram votadas nas conferências anuais deste ano.

Com a reestruturação, os EUA e as conferências centrais — oito regiões da igreja em África, Europa e Filipinas — tornam-se conferências regionais com a mesma autoridade para adaptar o Livro de Disciplina, o livro de políticas da denominação, para uma maior eficácia missionária.

“Esta mudança foi considerada a mais significativa na estrutura da igreja desde a fusão da Igreja Metodista e da Igreja Evangélica dos Irmãos Unidos em 1968, que deu origem à Igreja Metodista Unida”, afirmou Judi Kenaston, diretora do gabinete dos ministérios conexionais.

A Mesa Conexional funciona como uma espécie de conselho eclesiástico de toda a denominação e desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do plano que acaba de ser ratificado .

“A regionalização é a oportunidade de descentralizar a igreja, para que não seja uma igreja dominada pelos EUA, mas sim uma expressão única do Metodismo Unido em cada região”, disse Kenaston.

Anteriormente, apenas as conferências centrais tinham esta autoridade, de acordo com a constituição da denominação, para adaptar a Disciplina conforme as necessidades missionárias e os diferentes contextos legais. E como não existia uma conferência central nos EUA, a Conferência Geral centrava-se muito nos assuntos dos EUA. Por conta disto, os problemas da Igreja nos EUA ganharam o foco de toda a denominação a nível global.

As alterações constitucionais fornecem uma estrutura que permite as diferentes regiões da Igreja Metodista Unida trabalharem em conjunto no futuro. Especificam também certos aspectos que cada conferência regional poderá adaptar ao seu contexto.

Cada conferência regional terá autoridade para:

  • Publicar o seu próprio hinário, livro de culto e Livro de Disciplina regional.
  • Estabelecer padrões de carácter e outras qualificações para a admissão de leigos.
  • Estabelecer requisitos para a ordenação e o ministério pastoral licenciado.
  • Desenvolver práticas em torno das cerimónias de casamento, funerais e outros ritos, em consonância com a compreensão das Escrituras e das leis de cada país.
  • Alterar as infracções puníveis segundo a lei eclesiástica.
  • Colaborar com as conferências anuais para garantir que as políticas e práticas estão alinhadas com as leis de cada país.
  • Nomear um tribunal judicial para decidir sobre as questões jurídicas decorrentes das adaptações do Livro de Disciplina feitas pela conferência regional.

A regionalização aborda o intenso debate da Igreja Metodista Unida sobre a inclusão LGBTQ, permitindo que cada conferência regional tome decisões em torno deste assunto.

 Questões relacionadas a aceitação ou não do casamento entre pessoas do mesmo sexo e a ordenação de clérigos assumidamente homossexuais , ficará a cargo de cada conferência regional— desde que cumpram as leis nacionais nos respetivos territórios. As conferências centrais em África e nas Filipinas já optaram por manter as proibições ao clero gay e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Não adaptável

A Conferência Geral já determinou que certas partes do Livro de Disciplina são absolutamente inadaptáveis . A alteração destas disposições requer, no mínimo, uma decisão da Conferência Geral e, possivelmente, também uma decisão da conferência anual.

As partes não adaptáveis, listadas no Parágrafo 101 da Disciplina, são:

  • A Constituição
  • Padrões Doutrinários e a Nossa Tarefa Teológica
  • O Ministério de Todos os Cristãos
  • Os Princípios Sociais.

Em todos os aspetos, as alterações exigem que as conferências regionais cumpram as leis nacionais e não se afastem dos Artigos de Religião e da Confissão de Fé que contêm as doutrinas da denominação, incluindo a crença na ressurreição de Cristo, na Trindade e nos sacramentos do batismo e da comunhão.

A Conferência Geral continuará a atuar como o principal órgão legislativo da denominação, com plenos poderes sobre todos os assuntos especificamente relacionados com a ligação à denominação e que não estejam sujeitos a adaptação. A Conferência Geral poderá também determinar, através de uma votação com 60% dos votos, o que não é adaptável para as conferências regionais.

O Conselho de Bispos e o Conselho Judicial, que funcionam como o tribunal supremo da denominação, continuarão a conectar toda a Igreja Metodista Unida. Além disso, as 13 agências gerais da denominação continuam a fazer parte da sua estrutura. 

A regionalização exige alterações em mais de 20 parágrafos da constituição da denominação. Tanto na Conferência Geral como nas conferências anuais, os leigos e os clérigos votaram a favor ou contra todas as alterações sobre a  regionalização numa única votação.

Com a ratificação destas alterações constitucionais, entram também em vigor outras leis que tornarão a regionalização numa realidade.

Qual o próximo passo?

Para as oito conferências centrais em África, Europa e Filipinas, a única alteração imediata é que passarão a chamar-se conferências regionais. Voltarão a reunir-se normalmente após a Conferência Geral de 2028.

A maior mudança será a criação de uma Conferência Regional dos EUA. O Conselho de Bispos nomeará 20 a 25 delegados da Conferência Geral dos EUA para formarem a comissão de Organização Interina. Estes , organizarão a  Conferência Regional dos EUA.

A Conferência Geral do ano passado já havia aprovado uma outra comissão que se manteria em funcionamento mesmo que as alterações sobre a  regionalização não fossem aprovadas.

Na Disciplina, o Parágrafo 507 estabelece a criação de uma comissão interina dos EUA que atuará como uma comissão legislativa da Conferência Geral, tratando exclusivamente de assuntos legislativos dos EUA. A comissão que se reunirá imediatamente antes da Conferência Geral de 2028, incluirá todos os delegados da Conferência Geral dos EUA e um membro clérigo e leigo de cada conferência regional. Assim que a Conferência Regional dos EUA se reunir após a Conferência Geral, esta comissão legislativa deixará de existir.

Com a ratificação da regionalização, pode também começar o trabalho de aperfeiçoamento da legislação. A legislação exige que a Mesa Conexional e a Comissão Permanente realizem um estudo em conjunto sobre as formas de aperfeiçoar a regionalização e apresentem um relatório, incluindo quaisquer recomendações, à próxima Conferência Geral.

A principal missão do estudo é explorar se uma conferência regional deve ter jurisdições. Atualmente, apenas os EUA possuem jurisdições. Os cinco órgãos, bem como as conferências centrais, são compostos por múltiplas conferências anuais e elegem bispos. Mas, ao contrário das conferências centrais, as jurisdições não podem adaptar a Disciplina. As jurisdições foram criadas em 1939 para segregar os membros negros da igreja e impedir que os bispos do Norte  interviessem nos  assuntos dos bispos do Sul e vice-versa.

Perante este historial, têm surgido movimentos populares sugerindo a eliminação das jurisdições . Fazer isso também exigiria uma emenda à constituição da denominação.

“Embora ainda existam questões a responder sobre a regionalização, há muito entusiasmo”, disse Kenaston. “As pessoas estão dispostas a viver com uma certa ambiguidade enquanto procuramos soluções, e acho isso emocionante e ao mesmo tempo um exemplo da esperança que as pessoas depositam nesta mudança.”

Como chegámos a esta situação?

A ratificação da regionalização representa uma mudança drástica para uma ideia que a Igreja Metodista Unida e as suas denominações antecessoras têm vindo a considerar intermitentemente há cerca de um século.

Uma iniciativa semelhante de reestruturação, apresentada na Conferência Geral de 2008, foi rejeitada pela maioria dos votantes das conferências anuais . A proposta que havia sido apresentada para criar uma conferência central nos EUA, havia sido rejeitada já apartir da comissão, isto foi na Conferência Geral de 2016.

Em 2017, a Mesa Conexional preparou inicialmente a legislação para criar uma conferência regional nos EUA. Este esforço foi depois retomado e ampliado por um grupo de líderes da conferência central que redigiram o Pacto de Natal .

A Comissão Permanente para os Assuntos da Conferência Central — o único órgão denominacional com uma maioria de membros de fora dos EUA — baseou-se no trabalho da Mesa Conexional e  do Pacto de Natal para apresentar a legislação que compõe a Regionalização Mundial.

A Mesa Conexional e a maioria dos membros da equipe do Pacto de Natal também apoiaram a legislação da Comissão Permanente. Com a ratificação, a Comissão Permanente passa a designar-se Comissão Permanente para os Assuntos das Conferências Regionais Fora dos EUA.

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“Celebramos o resultado da ratificação da Regionalização Mundial”, afirmou a Reverenda Marie Sol Villalon, membro da equipe do Pacto de Natal das Filipinas.

“O nosso desafio é ser uma Igreja autêntica de Jesus Cristo que acolhe todas as pessoas, realizando um ministério fiel, especialmente para aqueles que sofrem e precisam da nossa presença compassiva através do serviço, do amor e da justiça no mundo. A igreja filipina está entusiasmada por fazer parte de uma nova Igreja Metodista Unida, participando na missão de Cristo no nosso próprio contexto regional”.

“Este momento chama-nos a reimaginar o Conexional isso através de um envolvimento generoso e de reciprocidade”, disse o Rev. Israel “Izzy” Alvaran, da rede dos ministérios de reconciliação . “A Regionalização Mundial é mais do que uma mudança estrutural — é um convite espiritual para incorporar a mutualidade, as parcerias equitativas e a esperança de um diálogo respeitoso em todas as regiões da nossa igreja.”

Karen Prudente, tesoureira da Mesa Conexional e participante da equipe do Pacto de Natal, disse estar ansiosa para ver como a regionalização ajudará os metodistas unidos a aprenderem a confiar uns nos outros.

“Sempre tivemos a oportunidade de mostrar como pessoas diversas podem viver juntas — os EUA são um ótimo exemplo do que é possível — e, no entanto, deixámos que o medo do outro nos impedisse de expandir este amor que todos temos”, disse durante um webinar antes da reunião dos bispos.

Kenaston partilhou um sentimento semelhante.

“Alguns temiam que a regionalização pudesse fragmentar a igreja”, disse ela. “Acredito que veremos a igreja mais unida do que nunca, à medida que compreendermos que cada região tem muito para oferecer.”

Hahn é editora assistente de notícias na UM News. Contacte-a pelo telefone (615) 742-5470 ou pelo e -mail newsdesk@umnews.org . O Rev. Israel Alvaran, da Reconciling Ministries Network, contribuiu para este artigo. Para ler mais notícias da Igreja Metodista Unida,  subscreva gratuitamente o Boletim Informativo da UM News .

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