Acima: A luz se derrama da porta e dos vitrais da Igreja Metodista Unida Central de Quéssua, parte da Missão Quéssua no leste de Angola. Estabelecida no final de 1800 por missionários Metodistas e destruída por quase três décadas de guerra civil que terminou em 2002, a missão está sendo reconstruída, levando educação, saúde e segurança alimentar às pessoas no vale rural perto da capital provincial de Malanje.
QUÉSSUA, Angola (Notícias da MU) — Desde o final do século 19, a estação da missão Metodista em Quéssua, Angola, tem apoiado as necessidades físicas e espirituais dos aldeões nesta área rural, agora parte da Conferência do Leste de Angola da Igreja Metodista Unida.
Um posto missionário é um posto avançado da igreja que provê as necessidades físicas e espirituais de uma comunidade. Ele usa uma abordagem holística que apoia a educação, o treinamento de habilidades, os cuidados de saúde e a sustentabilidade agrícola e econômica.
Tendo adoptado abordagens mais modernas para o trabalho missionário, a Junta dos Ministérios Globais da Metodista Unida já não utiliza mais o modelo de estação de missão, embora ainda haja um punhado operando no continente africano.
Desde 2004, a Conferência da Flórida mantém relacionamento com a Conferência Leste de Angola e apoia missionários na estação Quéssua. A Conferência da Flórida também envia equipes missionárias para lá regularmente.
Em Abril, uma equipe de Voluntários em Missão da Flórida viajou para Quéssua para uma variedade de projetos, desde médicos a nutricionais e de infraestrutura. As Notícias da Metodista Unida acompanharam a equipe.
Um dos principais projetos era fornecer cirurgias de catarata e outros cuidados com a visão.
Russ Montgomery, que dirige uma organização sem fins lucrativos em Tampa chamada Living in Faith, trabalhou com a Conferencia de Florida para conseguir um cirurgião e equipamento médico para ir a Angola. O seu ministério administra uma clínica oftalmológica no Haiti e ele fez sua primeira viagem a Quéssua em 2022.
A desnutrição e a superexposição à luz solar intensa são os principais contribuintes para a catarata, que se desenvolve com o tempo e pode deixar um indivíduo quase cego. Montgomery compara o efeito do sol no olho a colocar um ovo numa frigideira. “É claro no começo, mas depois fica opaco com o calor,” disse ele.
A equipe médica, liderada pela oftalmologista e cirurgiã oftalmologista Dra. Jeehee Kim, realizou 26 cirurgias de catarata, removendo lentes danificadas e substituindo-as por lentes artificiais.
Graciela Espinosa, optometrista servindo como missionária da Igreja Metodista de Cuba, auxiliou nos exames pré e pós-operatórios, bem como traduziu para os pacientes de língua portuguesa.
“É realmente comovente ajudar pessoas que estavam basicamente cegas há anos,” disse ela. “Eles dizem: 'posso ver a luz; posso ver as horas no relógio,’ e eles começam a dar graças a Deus.”
Espinosa e seu marido, Dr. Serguey Espinosa, um dentista, são apoiados como missionários pela Conferencia da Flórida. Ela trabalha no hospital da estação missionária, fazendo exames oftalmológicos para crianças nas aldeias e obtendo óculos para elas por meio da conferência, bem como remédio para infecções oculares.
“Muitas das crianças não enxergam bem e por isso abandonam a escola. Elas também podem perder a visão se uma infecção ocular não for tratada,” disse ela.
Eletricidade consistente é vital durante as operações, e o hospital carecia de reserva confiável. Seu gerador não funcionava bem há três anos. Dois membros da equipe, Ed Lobnitz, engenheiro elétrico, e David Johnston, eletricista, conseguiram religar as conexões da clínica e fazer o gerador funcionar novamente.
“A energia corta-se com bastante frequência aqui e, quando estás operando um olho, um minuto sem energia é um problema,” disse Lobnitz.
Ruthie Schaad, uma enfermeira e voluntária missionária de longo prazo, desenvolveu um relacionamento com as pessoas das aldeias vizinhas e pode descrever as dificuldades que a perda da visão cria para elas. Ela vive em Quéssua desde 2016 junto com o marido, David, que nasceu de pais missionários e viveu na missão até meados da década 60. Ele agora ajuda a manter os equipamentos da fazenda e o sistema de água que abastece toda a missão.
“Muitos são agricultores de subsistência e sua existência depende da capacidade de cultivar,” disse ela. “Um casal que tinha catarata foi trazido aqui por seu filho, que é meio cego devido ao sarampo na infância. Eles vêm de uma aldeia do outro lado do rio, e sua visão é muito fraca para cruzar com segurança a única ponte para chegar aqui.
Ao ajudar os pacientes depois que seus curativos foram removidos, Schaad foi capaz de dizer a eles: “Cada dia, vai ser melhor.”
Ela disse: “Um paciente está muito feliz porque agora pode cuidar de suas árvores de fruta. Outro homem da aldeia disse que deitou fora sua bengala e pode ver a capela pela primeira vez”.
Ben Jacob, professor assistente de pesquisa na Faculdade de Saúde Pública da Universidade do Sul da Flórida, em Tampa, juntou-se à equipe para implementar um programa exclusivo antimalária que ele chama de “Procurar e Destruir” – em homenagem a uma música do Metallica.
De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, a malária humana é transmitida apenas por mosquitos fêmeas do gênero Anófeles. As fêmeas adultas põem ovos diretamente na água – 50-200 por vez – e eles chocam em apenas alguns dias. Com sua longa estação chuvosa, Angola é propensa a poças de água estagnada que são ambientes ideais para pôr ovos.
“Quando vês filas de pessoas esperando do lado de fora da clínica médica aqui, eu diria que cerca de 80% deses casos são malária,” disse Jacob.
Jacob disse que tem sido uma prática comum tratar esses habitats com produtos químicos, mas os insectos desenvolvem resistência genética. Seu método visa matar as larvas de mosquitos antes que eles choquem, simplesmente preenchendo as áreas de água parada com terra e nivelando-as para evitar futuras poças.
Cada habitat recebe uma coordenada de GPS e é mapeado no Google Earth. Essas coordenadas são usadas para programar um drone, que voará baixo sobre cada área-alvo e tratará com um inseticida mais seguro.
“Não há contaminação ambiental e nenhum problema de resistência genética, e estás matando milhares de mosquitos,” disse ele. “Depois que eles saem, não há nada que possas fazer a não ser colocar uma rede, e não podes andar com uma rede 24 horas por dia, sete dias por semana.”
Jacob disse que é crucial conseguir a adesão dos moradores, pois eles terão que ser treinados para manter os habitats e como programar as coordenadas do GPS. A principal despesa é fornecer carrinhos de mão e pás para deixar com cada aldeia, para que a iniciativa seja sustentável.
Ele disse que encorajar a participação dos aldeões não foi difícil, pois eles entendiam tanto os encargos econômicos e de saúde por causa da malária.
“Se ganhas apenas US$ 50 por mês, não pode gastar US$ 20 em medicamentos, mais o tempo que levas para viajar para receberes tratamento e a perda de trabalho que isso acarreta,” disse ele.
Jacob foi recrutado para a equipe por Montgomery, que também mora em Tampa.
“Russ viu uma entrevista que fiz na TV, veio bater na minha porta e disse: 'Temos esse problema acontecendo em Angola'. Eu estava fazendo isso em outros países Africanos, então eu disse 'Claro,'” Jacob disse.
Enquanto estava em Quéssua, Jacob disse que ele e sua equipe localizaram e destruíram mais de 500 habitates de vários tamanhos. Em Setembro, ele retornará com um piloto de drone para tratar os habitates com inseticida.
Ele reconheceu que é uma tarefa assustadora combater a malária essencialmente com uma pá.
“É um grande assassino que estou combatendo,” disse ele, “mas David venceu Golias, não foi?”
Enquanto Jacob ensinava os aldeões a combater a malária, Jennifer e Victor Martin ensinavam às mulheres da aldeia um conjunto diferente de habilidades de luta.
Agressões sexuais e estupros são predominantes na área, sendo as mulheres que trabalham nos campos ou caminham sozinhas à noite especialmente vulneráveis. Algumas até foram mortas. Os Martins, ambos com formação militar, deram aulas de autodefesa para oferecer às mulheres habilidades para lutar contra possíveis atacantes.
“Muitos ataques vêm de trás enquanto elas estão trabalhando no campo, então elas precisam saber o que fazer e se virar para que possam fazer algumas dessas coisas,” disse Jennifer Martin.
Várias centenas de mulheres participaram da série de treinamentos. Uma participante, Terese Canda Vungi, disse: “O que aprendemos será de grande ajuda para todas as mulheres das aldeias”.
Paulina Maria Anton, que participou do treinamento na vila vizinha de Manga, disse: “Estou feliz pelo treinamento e entendo que não vou lutar, mas vou me defender. Agora conheço as técnicas de defesa e vou praticá-las em casa.”
Martin disse que um grupo ficou tão agradecido pela aula que deu aos instrutores um par de galinhas de presente.
A malnutrição é outro problema nesta parte de Angola, para pessoas de todas as idades. Uma ideia que a Conferência da Flórida teve foi criar barras nutricionais ricas em proteínas contendo manteiga de amendoim e uma mistura de vitaminas.
“Quando estás tão malnutrido, a comida regular não é suficiente,” disse Michele Johnston, membro da equipe de Jacksonville.
A estação missionária tem uma machamba de 20 hectares (cerca de 50 acres) em seu terreno e administra um programa agrícola supervisionado por Kutela Katembo, uma missionária do Ministério Global e agricultora apoiada pelas conferências de Florida e Mountain Sky. A machamba cultiva amendoim e forneceu mais de 100 sacos para o projeto.
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Atrás de uma das casas da missão foi criado um espaço para guardar todo o equipamento necessário para a produção. O marido de Johnston, David, conectou o espaço com electricidade adequada para a maquinaria. O amendoim será descascado, torrado, moído, misturado aos demais ingredientes e ensacado para distribuição. O projeto pretende ser sustentável para que outros possam manter a produção quando as equipes da missão não estiverem presentes.
Infelizmente, o projeto encontrou um obstáculo: o moinho que compraram não funcionou correctamente, o que fez com que a Johnston não pudesse ver tudo decolar antes que ela voltasse para os Estados Unidos.
"Meu lema é: 'Se não funciona, continue tentando,'" disse ela. “Não vou conseguir ver o fruto, mas ajudei a plantar a semente. Outra equipe virá atrás de nós e será capaz de continuar”.
Essa equipe chegou para continuar o trabalho alguns dias depois que Johnston deixou Quéssua, incluindo Greg Harford e seu marido, Larry. Resolvidos os problemas com o moinho, eles conseguiram embalar 500 sacos de barras nutritivas e distribuí-los a idosos da comunidade
“Na outra noite, visitei um homem no hospital que havia feito cirurgia. Orei por ele e quando agarrei seu braço, poderia ter a largura de dois dedos meus,´´ disse Greg Harford. “Se este projecto pode ajudar de alguma forma, então vale a pena estar aqui. Estou honrado em fazê-lo.”
Além do projeto de suplemento nutricional, a equipe voluntariou-se como servidora no programa semanal de alimentação infantil da estação missionária. Todos os sábados e domingos, centenas de crianças e adolescentes da vila recebem uma refeição saudável - para muitos, pode ser a única que recebem naquele dia.
“Quessua é cercada por aldeias com pessoas que não conseguem comer três vezes ao dia,” disse Katembo. “Sempre que tivermos algo da machamba, usamos para sustentar as crianças.”
Ivellise Arman, membro da equipe, disse: “Foi uma experiência maravilhosa conhecer todas as crianças. Servir todas as suas refeições e prover para eles tem sido realmente impressionante para mim.”
Arman foi um dos vários para quem esta foi uma primeira viagem a Angola. Sandi Goodman, no entanto, visitou 13 vezes desde 2010.
“Os jovens adultos com quem trabalhamos hoje eram as crianças que viemos ver no começo,” disse ela. “Passei mais tempo com pessoas em Angola ao longo destes anos do que com pessoas em casa.”
Goodman, cujo pai era um pastor Metodista na Flórida, disse que fez uma promessa aos 12 anos de se tornar uma missionária em África. Seus três filhos estão envolvidos em missões, e Goodman disse que agora todos os seus filhos adolescentes querem vir.
“Eu não poderia ter sonhado com isso. Ainda me sinto como aquela garotinha no acampamento da igreja prometendo fazer alguma coisa,” disse ela.
Embora poucos deles se conhecessem antes, os membros da equipe ficaram satisfeitos com a forma como eles se uniram e como cada um deles desempenha um papel diferente na missão.
“A boa coisa desta equipe é que somos um consórcio, disse Jacob. “Cada um de nós está fazendo algo diferente para ajudar estas aldeias.”
Victor Martin concorda.
“Tudo vem junto; é um esforço de equipe. Deus nos dá força para nos unirmos e fazermos a missão,” disse ele.
Martin credita a força da equipe à visão de Icel Rodriguez, diretor de missões globais da Conferencia de Florida. Rodriguez e seu marido, Armando, serviram em 2009-10 como missionários em Quéssua.
“Icel analisa todo o conjunto de habilidades das pessoas e monta o grupo,” disse ele. “Jen e eu temos formação militar, mas não somos especialistas em autodefesa. Icel perguntou se poderíamos fazer isso e nós dissemos que faríamos o que pudéssemos.”
Rodriquez, no entanto, é rápido em dar crédito a outro lugar.
"É tudo Deus - tudo isso," disse ela. “Cada passo do caminho Deus colocou tudo no lugar.”
Serguey Espinosa credita a Deus as circunstâncias improváveis que o trouxeram a Quéssua. Dentista formado em Cuba, sua terra natal, Espinosa disse que orava por uma oportunidade de servir à igreja, “mas em Cuba, quando dizes: 'Quero trabalhar para Deus,' eles pensam que só trabalhas como pregador. ”
Um dia, houve um visitante da Conferência da Flórida na sua igreja: Rodriguez, ela própria Cubana nativa. Ela disse a Espinosa que precisavam de um dentista na missão. Em 2018, ele pôde ir e ficar um mês; no ano seguinte, conseguiu levar a esposa Graciela e ficar dois meses. Em Junho de 2022, eles puderam se mudar para Angola em tempo integral como missionários apoiados pela Conferência da Flórida.
“Acredito que a coisa mais difícil na vida de um Cristão é ficar quieto e esperar a bênção de Deus,” disse ele.
Ele descreve o ministério da missão de Quéssua de forma simples: “Tudo isso é um milagre”.
Joey Butler é produtor/editor de multimídia das Noticias da MU e Mike DuBose é fotógrafo freelancer em Nashville, Tennessee. Contate-os atraves de (615) 742-5470 ou newsdesk@umcom.org.
Credits:
Mike DuBose